Monday, June 18, 2007

volte-face e maniqueismo


O post-modernismo de Jameson, Crimp e Hal Foster opôs-se ao post-modernismo conservador que grassava como corrente dominante quer na europa quer nos estados unidos - produto típico das universidades americanas, os artistas robusteciam-se em teorias neo-marxistas que conjugavam algumas teorias de walter benjamin com braudillard, arrastando consigo num caldo knorr todos os post-estruturalistas - barthes, lacan, foucault, etc.
Destacando-se dos velhos conceptuais, cujo paradigma «desmaterializador» e alicerçado na filosofia analítica já há muito entrara em declinio, estes rapazes iniciaram um ciclo inicialmente «simulacionista» que já se arrasta há quase três decadas com nuances muito diversas, e que partindo de uma crítica do mercado e dos média se tornou um pouco como o glamour auto-crítico do mercado, explorando medias menos físicos.
O regressos dos cães de fila da arte conceptual/povera já se tinha iniciado na Europa em 1985, e os portugueses tiveram a oportunidade de no ínicio de 1987 ver uma excelente exposição de Haley, Koons, Kruger, Levine e outros durante a Arco em Madrid. O meu colega Pedro Portugal socumbiu da forma mais natural aos seus efeitos. Em 1988 Jeff Koons era já o mais popular artista do mundo - os coleccionadores começaram a desfazer-se da pintura.


É bom citar Foster, há um fundo de verdade nas suas teorias, mas também é maquiavélico e simplista na forma como divide as àguas e como desfaz criticamente os «post-modernistas conservadores»:


«O post-modernismo neo-conservador é o mais conhecido dos dois: define-se principalmente em termos estilisticos - ele opõe-se ao modernismo, reduzido à pior imagem formalista, através de um regresso à narração, ao ornamento, e à figura. Esta posição é frequentemente uma reacção que não se reduz a um aspecto estilistico - uma vez que o regresso à História (a tradição humanista) e o regresso ao sujeito (o artista/arquitecto como autor) são proclamados na mesma ocasião. O post-modernismo post-estruturalista, por seu lado, supõe a «morte do homem», não somente enquanto criador original de artefactos únicos, mas também como sujeito da representação e da História.»


Em Portugal, paradoxalmente, o post-modernismo surje como desenvolvimento natural do post-estruturalismo, conjugado com a estética de recepção de Jauss, o desconstrutivismo de derrida, etc. Mas havia no ar um «rumor teórico» que apostava na tradição do mutismo do sublime kantiano à luz de Derrida , Wittegenstein e Nietzsche - as noções de «resto» , de «margem» , de «indizível», de «indicidível», de «vago», de «paradigma», de «local e global», deram origem a cozinhados bastante poéticos e equívocos, por vezes acasalados com um heideggarianismo de rés-do-chão. Os textos acabam por ser interessantes porque insistem teóricamente na relativa impotência da teoria e porque apresentam, numa caracteristica tipicamente bhartesiana, as obras de arte como o que resiste poéticamente à domesticação quer pelas regras da linguagem ( o famoso cliché de que a linguagem é fascista) quer pelos espartilhos teóricos. Além do mais a ressaca da política revolucionária cansara o meio cultural de noções então estereotipadas como a de «vanguarda».
Veremos nos seguintes posts alguns exemplos do criticismo impressionista e da tendência lirica. Como artista que se preocupou teoricamente com as questões da representação e ornamento nunca me vi no campo do subjectivismo e lirismo, nem em nenhuma espécie de glorificação romantica do que quer que seja - algum passadismo? Sim senhor! Primitivismo? Claro! Orientalismo! Certo! Mas todas essas questões deveram ser colocadas no mesmo pé do neo-popismo, como aspectos contraditórios, confluentes e post-post coloniais de um devir de heterógenias contingências.

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